segunda-feira, 7 de março de 2022

 

                    "Esqueça tudo que você sabe sobre si mesmo;

                    Esqueça tudo que você pensou sobre si mesmo;

                    Comece como se você não soubesse nada."


                                        Jiddu Krishnamurti

 



quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

A Postura




 
Kumiko Hara
Japanese actress and model







Este livro é incomodo porque arrebata ao Ser Humano a possibilidade de recorrer à doença como um álibi para a resolução dos seus problemas pendentes. Propomo-nos demonstrar que o doente não é a vítima inocente dos erros da natureza, mas antes o seu próprio carrasco. Através desta afirmação não nos referimos à contaminação do meio ambiente, aos males da civilização, à vida insalubre nem a outros quantos vilãos do género, pretendendo antes evidenciar o aspecto metafísico da doença. Encarados por esse prisma, os sintomas surgem como manifestações físicas de conflitos psíquicos e a sua mensagem pode desvendar o problema de cada paciente.




A POSTURA


Quando falamos da postura de uma pessoa não transparece claramente, pela simples palavra, se nos referimos ao seu aspecto corporal ou moral. De qualquer das formas, esta ambivalência semântica não deve conduzir a confusões na medida em que a postura exterior é o reflexo da postura interior. O interno sempre se reflete no externo. Assim falamos, por exemplo, de uma pessoa reta, na maior parte das vezes sem nos darmos conta sequer de que a palavra retidão descreve uma atitude corporal que teve consequências capitais na história da humanidade. Um animal não é susceptível de ser reto porque ainda não se ergueu.

Em tempos remotos o Ser Humano deu o passo transcendente de se erguer e dirigir o olhar para cima, para o céu: conquistou assim a oportunidade de se converter em Deus e, simultaneamente, desafiou o perigo de se julgar Deus. O perigo e a oportunidade de se ter erguido refletem-se também no plano corporal. As partes brandas do corpo, que os quadrúpedes mantêm bem protegidas, ficaram desprotegidas no Homem. Esta falta de proteção e a maior vulnerabilidade que daí advém vai de par com a virtude polar de uma maior abertura e receptividade. É a coluna vertebral, em particular, que nos permite manter uma postura reta. É ela que confere verticalidade, mobilidade, equilíbrio e flexibilidade ao Ser Humano. A coluna tem a forma de um S duplo e atua conforme o princípio da amortização. Aquilo que lhe confere flexibilidade e mobilidade é a polaridade vértebras duras/discos moles. Dizíamos nós que as posturas interna e externa se correspondem e que essa analogia se espelha num grande número de expressões idiomáticas: há pessoas retas e coerentes e pessoas que se deixam vergar; todos conhecemos pessoas rígidas e casmurras e pessoas que não se importam de gatinhar e se deixam facilmente arrastar; a outros não só lhes falta atitude, mas também um apoio. Mas é possível, também, influenciar e modificar artificialmente a atitude externa a fim de simular firmeza interna.

É nesse sentido que os pais incitam os seus filhos gritando-lhes «põe-te direito!», «será que não és capaz de manter as costas direitas?», e assim se entra no jogo da hipocrisia.

Anos mais tarde, é o exército que ordenará aos seus soldados «Sentido!». Aí a situação torna-se grotesca. O soldado é forçado a manter o corpo direito ao mesmo tempo que é obrigado a vergar-se interiormente. Desde o princípio dos tempos o exército sempre se empenhou em cultivar a firmeza exterior apesar de que, do ponto de vista estratégico, tal se afigure uma idiotice. Durante o combate de nada adianta marchar em fila ou ficar em parada. Cultiva-se a firmeza exterior apenas para desfazer a correspondência natural entre firmeza interior e firmeza exterior. A verdadeira instabilidade interior dos soldados costuma, então, vir ao de cima nos momentos de lazer, após uma vitória ou em ocasiões similares. Os guerrilheiros por sua vez não cultivam a postura marcial mas possuem uma identificação íntima com a missão que desempenham. A eficiência aumenta consideravelmente graças à firmeza interior e diminui com a simulação de uma firmeza artificial. Basta comparar a postura do soldado, com as suas articulações rígidas, e a postura do vaqueiro que jamais sacrificaria a sua liberdade de movimentos bloqueando as próprias articulações. Essa atitude aberta na qual o indivíduo se situa no seu próprio centro encontramo-la também no Tai-Chi. (Aqui a palavra utilizada no original é hartnàckig, que se pode traduzir literalmente por «pescoço duro».)

Toda a postura que não reflita a essência interior de uma pessoa afigurasse-nos de imediato forçada. Por outro lado, podemos reconhecer facilmente uma pessoa através da sua postura natural. Se alguma doença a obrigar a adoptar uma postura que nunca assumiria voluntariamente, a postura em questão revela-nos uma atitude interna que não foi vivida e indica-nos aquilo contra o qual essa pessoa se rebela. Ao observarmos alguém temos de distinguir se ela se identifica com a sua postura ou se adoptou uma postura forçada. No primeiro caso, a postura reflete uma identidade consciente. No segundo caso, na rigidez da postura manifesta-se uma zona de sombra que jamais seria aceite voluntariamente. Assim, o indivíduo que caminha pelo mundo de cabeça erguida revela uma certa inacessibilidade, orgulho, altivez e retidão. Semelhante pessoa identifica-se perfeitamente com todas essas qualidades - nunca as negaria.

Algo de bem diferente acontece, por exemplo, no caso da doença de Bechterew, em virtude da qual a coluna vertebral adquire a forma típica de uma cana de bambu. Nesse caso, um egocentrismo não assumido conscientemente pelo doente e uma falta de flexibilidade não reconhecida manifestam-se no plano somático. Com o tempo a coluna vertebral fica calcificada de cima a baixo, as costas enrijecem e a cabeça inclina-se para a frente devido à inversão ou eliminação da sinuosidade da coluna vertebral. O doente não tem outro remédio senão admitir que na realidade se tornou rígido e inflexível. A corcunda exprime uma problemática semelhante: a corcunda espelha uma humildade não assumida de modo consciente.




LIVRO: A Doença Como Caminho, Thorwald Dethlefsen e Rúdiger Dahlke

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Saturno retrógrado em Aquário pede mais responsabilidade social e coletiva - 2021

 


A partir do dia 23 de maio e até o dia 10 de outubro, Saturno ficará retrógrado no signo de Aquário. Conhecido como o Senhor do Karma, a representação do Deus Cronos, o planeta age como um limitador e vem cobrar nossas responsabilidades. A astróloga Sara Koimbra explica que ele é visto como um pai que restringe e cobra posturas para que o filho se desenvolva de maneira satisfatória.

Se naturalmente essa cobrança já é rígida por ser um planeta dito maléfico, quando Saturno fica retrógrado essa pressão se torna ainda mais pesada e desafiadora. "Com essa retrogradação, se não fizermos o básico em relação às nossas responsabilidades, principalmente coletivas, as consequências serão radicais. É preciso chegar a um consenso sobre o que precisamos melhorar e ter foco para colocar as melhorias em prática", diz.

Sara explica que Saturno está relacionado, além da responsabilidade, com as regras, a diligência, a maturidade, as estruturas e a coletividade. O planeta tem como objetivo astrológico ajudar todos os signos a compreenderem qual a responsabilidade de cada um em relação ao mundo coletivo, além de trazer ponderação para lidar com o que não é tão fácil de digerir. "Quando Saturno retrograda em Aquário, ele traz acontecimentos imprevisíveis em relação à estrutura da sociedade, em relação aos nossos sonhos e às nossas grandes aspirações. Como a gente lida com o que não tem escapatória? Como isso pode favorecer o nosso amadurecimento e trazer crescimento pessoal?", reflete a astróloga.

Embora suas ações influenciem cada pessoa individualmente, já que todos possuem Saturno no mapa astral, Sara explica que o planeta é considerado social ou impessoal, além de ter rotação lenta. Isso significa que ele rege as nossas características e o nosso papel em relação ao grupo. É nesse setor que o planeta vai pedir uma pausa para reavaliações", diz.


Cenário Político

 

As estruturas governamentais vão ser especialmente tocadas por essa retrogradação. Isso acontece porque o trânsito será em Aquário, planeta regido por Urano, que fala sobre revoluções, tecnologia e conflitos. "A tecnologia e os avanços da política no contexto social estarão em pauta. A liberdade do ir e vir também será questionada, por isso acredito que a terceira onda da pandemia no Brasil pode vir durante este período", acredita a astróloga.

Mais restrições podem ser impostas, já que a retrogradação de Saturno aponta rigidez em dobro para setores que não estão cumprindo com suas obrigações. A vacinação, inclusive, pode sofrer empecilhos e ter sua propagação ainda mais lenta. Sara explica que a demora trazida pelo astro acontece para que as pessoas reavaliem o contexto e entendam suas responsabilidades nisso tudo.


Responsabilidade Social

 

"Até o dia 10 de outubro, seremos forçados a olhar com mais maturidade para a nossa responsabilidade coletiva. Se a demora da vacina estava incomodando, agora incomodará mais. Se o aumento de casos incomodava, agora seremos obrigados a olhar para nossa carga de responsabilidade em relação a isso. Colheremos as consequências por não termos permitido certos avanços", acredita a astróloga. Ela defende que Saturno cobra o despertar sobre nosso papel no desenvolvimento coletivo. "Como eu estou atrapalhando esse desenvolvimento? Qual a minha posição em relação a tudo isso? Essa introspecção e reflexão a respeito da nossa liberdade de movimentação dentro de um contexto mais amplo será trazida com força por Saturno retrógrado. Estamos permitindo os avanços ou estacionando os avanços? Questione-se", finaliza a astróloga.


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Fonte do Texto

Fonte da Arte  (artista não mencionado)


segunda-feira, 17 de maio de 2021

Capítulo 11 - Observar e Ouvir - A Arte - A Beleza - A Austeridade - As Imagens - Os Problemas - O Espaço


    Acabamos de investigar a natureza do amor e alcançamos, creio, um ponto que requer maior penetração, maior percebimento. Descobrimos que, para a maioria, amor significa conforto, segurança, uma garantia de satisfação emocional, contínua, para o resto da vida. Chega então uma pessoa como eu e diz: "Será isso realmente amor?", e vos contesta, e vos pede que olheis para dentro de vós mesmo. Procurais não olhar, porque isso é muito perturbador; seria preferível discutir sobre a alma ou a situação política ou econômica. Mas, quando vos vedes encostado a um canto e obrigado a olhar, percebeis que isso que sempre pensastes ser amor não é, de forma nenhuma, amor; é uma satisfação mútua, mútua exploração. 

    Quando digo: "O amor não tem amanhã nem ontem", ou "não existindo centro algum, então há amor", isso tem realidade para mim, mas não para vós. Podeis citá-lo e convertê-lo numa fórmula, mas sem qualquer validade. Tendes de ver o fato por vós mesmo, e, para tanto, necessita-se de liberdade para olhar, precisa-se estar livre de toda condenação, de todo juízo, de toda aquiescência ou discordância. 

    Ora, olhar é uma das coisas mais difíceis da vida — ou escutar — olhar e escutar são a mesma coisa. Se vossos olhos estão obcecados por vossas inquietações, não podeis ver a beleza do pôr-do-sol. A maioria de nós perdeu o contato com a natureza. A civilização tende muito à formação de grandes cidades; estamo-nos tornando cada vez mais gente urbana, vivendo em apartamentos apertados, e tendo muito pouco espaço mesmo para olhar o céu da tarde e da manhã e, por conseguinte, estamos perdendo o contato com a beleza. Não sei se já notastes quão poucos dentre nós olham o nascer ou o pôr-do-sol, ou o luar ou os reflexos da luz na água. 

    Tendo perdido o contato com a natureza, tendemos naturalmente a desenvolver as aptidões intelectuais. Lemos um grande número de livros, frequentamos muitos museus e concertos, vemos televisão e temos outros mais entretenimentos. Citamos interminavelmente as ideias de outrem, muito pensamos e falamos sobre arte. Por que razão dependemos tanto da arte? Constitui ela uma forma de fuga, de estímulo? Se estais diretamente em contato com a natureza; se observais o movimento de uma ave a voar, se vedes a beleza de cada movimento das nuvens, observais as sombras nos montes ou a beleza manifestada no rosto de outra pessoa, achais que tereis vontade de ir a um museu para ver quadros? Talvez, porque não sabeis olhar todas as coisas que vos circundam; talvez seja por essa razão que recorreis a uma certa droga, para estimular-vos a ver melhor. 

    Conta-se uma história acerca de um instrutor religioso que todas as manhãs falava aos seus discípulos. Uma certa manhã, subiu ao palanque e, justamente quando ia começar a falar, um passarinho pousou no peitoril de uma janela e começou a cantar, a cantar, com toda a alma. Depois calou-se e foi-se, a voar. Disse então o instrutor: "Está terminado o sermão desta manhã". 

    Parece-me que uma das nossas maiores dificuldades é vermos, por nós mesmos, com toda a clareza, não só as coisas exteriores, mas também a vida interior. Quando dizemos que vemos uma árvore ou uma flor ou uma pessoa, vemo-la realmente? Ou vemos meramente a imagem que a palavra criou? Isto é, quando olhais uma árvore ou uma nuvem, numa tarde luminosa, vós a vedes realmente, não só com vossos olhos e intelectualmente, porém totalmente, completamente? 

    Já experimentastes alguma vez olhar uma coisa objetiva, uma árvore, por exemplo, sem nenhuma das associações, nenhum dos conhecimentos que a respeito dela adquiristes, sem nenhum preconceito, nenhum juízo, nenhuma palavra a constituir uma cortina entre vós e a árvore, e impedindo-vos de a ver tal qual é realmente? Experimentai, para verdes o que realmente acontece, quando observais a árvore com todo o vosso ser, com a totalidade de vossa energia. Nessa intensidade, vereis que não há observador nenhum; só há atenção. Só quando há desatenção existe "observador e coisa observada". Quando estais olhando com atenção completa, não há espaço para nenhum conceito, fórmula, lembrança. Importa compreender isso, porque vamos examinar um assunto que requer mui cuidadosa investigação. 

    Só a mente que olha as árvores ou as estrelas com total abandono de si própria, só essa mente sabe o que é a beleza, e quando estamos realmente vendo, achamo-nos num estado de amor. Em geral, conhecemos a beleza pela comparação ou através das criações do homem, o que significa que atribuímos beleza a um certo objeto. Vejo aquilo que considero um belo edifício e aprecio essa beleza por causa de meu conhecimento de arquitetura e pela comparação com outros edifícios que vi. Mas, agora pergunto a mim mesmo: "Existe beleza sem objeto?". Quando há um observador, ou seja o censor, o experimentador, o pensador, não há beleza, porque a beleza é então algo exterior, algo que o observador olha e julga; mas, quando não há observador — e isso requer muita meditação, investigação — há então a beleza sem objeto. 

    A beleza reside no total abandono do observador e da coisa observada, e só pode haver auto-abandono quando há austeridade total, não a austeridade do sacerdote, com sua rudeza, suas sanções, regras e obediência; não a austeridade no vestir, nas ideias, no alimentar-se, no comportamento — porém a austeridade que consiste em ser totalmente simples, que é a humildade completa. Não há então realização, não há escada para galgar, só há o primeiro degrau, e o primeiro degrau é o degrau eterno. 

    Suponhamos, por exemplo, que estejais passeando a sós ou com alguém, e vos calastes. Estais rodeado pela natureza e não se ouve o latido de um cão, o barulho de um carro que passa, nem mesmo o ruflar das asas de um pássaro. Estais em completo silêncio, e silenciosa também está a natureza circundante. Nesse estado de silêncio existente tanto no observador como na coisa observada — quando o observador não está a traduzir em pensamento o que está vendo — nesse silêncio há uma diferente qualidade de beleza. Não existe nem a natureza nem o observador. O que existe é um estado em que a mente está total e completamente só; só — não isolada — só em sua quietude, e essa quietude é beleza. Quando amais, existe algum observador? Só há observador quando o amor é desejo e prazer. Quando o desejo e o prazer não estão relacionados com o amor, então o amor é intenso. Como a beleza, ele é uma coisa totalmente nova em cada dia. Como já disse, ele não tem nem ontem nem amanhã. 

    É só quando vemos sem nenhum preconceito, nenhuma imagem, que somos capazes de estar em direto contato com alguma coisa na vida. Todas as nossas relações baseiam-se, com efeito, em imagens formadas pelo pensamento. Se tenho uma imagem a respeito de vós, e vós tendes uma imagem a respeito de mim, naturalmente não nos vemos um ao outro como realmente somos. O que vemos são as imagens que formamos um do outro, as quais nos impedem o contato, e é por essa razão que nosso relacionamento não funciona bem. 

    Quando digo que vos conheço, quero dizer que vos conheci ontem. Não vos conheço realmente, agora. O que conheço é só a imagem que tenho de vós. Essa imagem é constituída pelo que dissestes em meu louvor ou para me insultardes, pelo que me fizestes; é constituída de todas as lembranças que tenho de vós; e vossa imagem relativa a mim é constituída da mesma maneira, e são essas imagens que estão em relação e nos impedem de comungar realmente um com o outro. 

    Duas pessoas que viveram em comum por muito tempo têm imagens uma da outra, que as impedem de estar em relação. Se compreendemos as relações, podemos cooperar, mas não há possibilidade de cooperação através de imagens, de símbolos, de conceitos, ideologias. Só quando compreendemos a verdadeira e mútua relação entre nós, há possibilidade de amor, mas o amor é negado quando temos imagens. Por conseguinte, importa compreenderdes, não intelectualmente porém realmente, em vossa vida diária, como formastes imagens a respeito de vossa esposa, de vosso marido, de vosso vizinho, de vosso filho, de vossa pátria, vossos políticos, vossos deuses; nada mais tendes senão imagens. 

    Essas imagens criam o espaço entre vós e aquilo que observais, e nesse espaço há conflito. Vamos, pois, agora descobrir juntos se é possível nos livrarmos do espaço que criamos, não só fora de nós, mas também dentro de nós mesmos, o espaço que separa as pessoas em todas as suas relações. 

    Ora, a própria atenção que dais a um problema constitui a energia que resolve o problema. Quando dispensais toda a atenção — quer dizer, tudo o que tendes — não existe observador nenhum. Há só o estado de atenção, que é energia total, e essa energia total é a forma mais elevada de inteligência. Naturalmente, esse estado da mente deve ser todo de silêncio; e esse silêncio, essa quietude, surge quando há atenção total, e não quietude disciplinada. Esse completo silêncio em que não há observador nem coisa observada é a mais alta forma de uma mente religiosa. Mas o que sucede, nesse estado, não pode ser expresso em palavras, porque o que sei por meio de palavras não é o fato. Para descobrirdes por vós mesmo, tendes de passar por esse estado. 

    Cada problema está relacionado com todos os outros problemas e, assim sendo, se puderdes resolver um só problema completamente — não importa qual seja — vereis que sereis capaz de enfrentar e resolver facilmente todos os demais. Naturalmente, estamos falando de problemas psicológicos. Já vimos que um problema só pode existir no tempo, isto é, quando enfrentamos uma dada situação incompletamente. Assim, não só temos de estar cônscios da natureza e estrutura do problema e vê-lo totalmente, mas também devemos enfrentá-lo tão logo surge e resolvê-lo imediatamente, para que não possa enraizar-se na mente. Se deixamos um problema durar um mês, um dia, ou mesmo alguns minutos, ele deforma a mente. Assim, será possível enfrentarmos imediatamente um problema, sem nenhuma deformação, e nos livrarmos dele imediata e completamente, sem que fique, na mente, nenhuma memória, nenhuma arranhadura? Essas memórias são as imagens que levamos conosco e são essas imagens que enfrentam essa coisa portentosa que é a vida e, por conseguinte, há contradição e, daí, conflito. A vida é muito real; não é uma abstração; e, quando a enfrentamos com imagens, nascem problemas.
    
    Será possível enfrentar cada caso que surge, sem esse intervalo de espaço-tempo, sem esse vão entre a própria pessoa e aquilo de que ela tem medo? Só é possível, quando o observador não tem continuidade, o observador, que é o formador da imagem, o observador que é uma coleção de memórias e ideias, um feixe de abstrações.

    Quando olhais as estrelas, existe vós, que estais a olhar as estrelas; o céu está todo inundado do brilho das estrelas, o ar é fresco, e lá estais vós, o observador, o experimentador, o pensador, vós, com vosso coração dolorido, vós, o centro, a criar espaço. Jamais compreendereis nada acerca do espaço existente entre vós e as estrelas, entre vós e vossa esposa ou marido ou amigo, porque nunca os olhastes sem a imagem, e essa é a razão por que não sabeis o que é a beleza ou o que é o amor. Falais sobre eles, escreveis a seu respeito, mas jamais os conhecestes, a não ser, talvez, em raros intervalos de total abandono de vós mesmo. Enquanto existir um centro a criar espaço em torno de si, não haverá amor nem beleza. Não havendo nenhum centro e nenhuma circunferência, então há amor. E quando amais, vós sois beleza.

    Ao olhardes um rosto à vossa frente, estais olhando de um centro, e esse centro cria o espaço entre as pessoas, e é por isso que nossas vidas são tão vazias e insensíveis. Não podeis cultivar o amor ou a beleza e tampouco podeis inventar a verdade; mas, se estiverdes sempre cônscio do que estais fazendo, podereis cultivar o percebimento e, graças a esse percebimento, começareis a ver a natureza do prazer, do desejo e do sofrimento, e a total solidão e tédio em que vive o homem; começareis então a descobrir aquela coisa chamada "espaço".

    Havendo espaço entre vós e o objeto que estais observando, sabereis que não há amor e, sem o amor, por mais que vos esforceis para reformar o mundo ou criar uma nova ordem social, ou por mais que discurseis a respeito de melhorias, só criareis agonia. Portanto, tudo depende de vós. Não há líder, não há instrutor, não há ninguém que possa ensinar-vos o que deveis fazer. Estais só neste mundo insano e brutal.



Livro: Liberte-se do Passado, J. Krishnamurti




quinta-feira, 13 de maio de 2021

Capítulo 33 - Vida e Feitos de Jesus na Índia


Shiva e Shakti, por Darpankaur


Jesus ensina às pessoas comuns em uma fonte. Diz-lhes como alcançar a felicidade. Conta a parábola do campo rochoso e do tesouro escondido.

  1. Em meditação, Jesus sentou-se ao lado de uma fonte. Era um dia santo, e muitos dos servos estavam ao redor.
  2. E viu Jesus a marca do trabalho pesado nas mãos deles; não havia expressão de alegria em seus rostos. Não podiam pensar em outra coisa a não ser labutar.
  3. Perguntou então Jesus: Por que sentir-vos tão tristes? Não tem felicidade em vossas vidas?
  4. Um deles replicou: Pouco sabemos do significado desta palavra. Labutamos para sobreviver, e não esperamos nada além disso, e bendito seja o dia em que poderemos cessar dessa vida e descansar na cidade dos mortos de Buda.
  5. E o coração de Jesus se encheu de piedade e amor por estes pobres servos, e disse-lhes:
  6. Não deveria o trabalho entristecer os homens; estes deveriam, sim, ficar contentes quando laboram. Quando o amor e a esperança fizerem parte dele, então toda a vida será preenchida com alegria e paz, e isto é o paraíso. Não sabíeis que tal paraíso vos pertence?
  7. Disse o homem: Disso já ouvimos falar, mas ainda está tão longe, e devemos viver tanto ainda até que possamos alcançar este lugar!
  8. Disse-lhe Jesus: Meu irmão, estais enganado, vosso paraíso não está tão longe; e lá não é lugar que possa ser medido, não é uma terra a ser alcançada; é um estado de espirito.
  9. Deus jamais fez um paraíso para o homem; e jamais fez um inferno; nós próprios os criamos.
  10. Então, parai de buscar o paraíso no céu; apenas abri as janelas de vossos corações e, como um clarão de luz, um paraíso virá e trará o gozo infinito; então o trabalho não mais será um fardo.
  11. O povo ficou maravilhado e aproximou-se para ouvir o estranho jovem mestre.
  12. Imploraram-lhe para dizer mais sobre Deus Pai; sobre o paraíso que os homens podem criar na terra; sobre a alegria infinita.
  13. E Jesus contou uma parábola; assim começou: Um certo homem possuía um campo, o solo era pobre e infrutífero.
  14. Ainda que muito trabalhasse, mal conseguia dele tirar seu sustento para manter sua família.
  15. Certo dia, um minerador, que por ali passava, avistou este pobre homem e seu campo infrutífero.
  16. Chamando-o disse-lhe: Irmão, não sabeis que abaixo da superfície deste campo há tesouros escondidos?
  17. Vós, arais, semeais e ceifais em campo escasso e dia após dia pisais sobre uma mina de ouro e pedras preciosas.
  18. Esta riqueza não está sob a superfície deste solo, se cavardes, porém, este solo rochoso e o sondardes profundamente, não mais precisareis cultivá-lo em vão.
  19. Nisto creu o homem. O minerador certamente sabe o que fala; e disse: Encontrarei os tesouros escondidos em meu campo.
  20. Então cavou o solo rochoso e lá, no fundo da terra, encontrou uma mina de ouro.
  21. Disse Jesus: Os filhos dos homens estão trabalhando arduamente em solos desérticos, e estão queimando solos rochosos; estão fazendo o que seus pais costumavam fazer, sem sonhar que podem fazer algo a mais.
  22. Vede, um mestre vem conta-lhes sobre um tesouro escondido; que embaixo do solo rochoso de coisas carnais estão tesouros incontáveis.
  23. Que em seu coração há riquezas em abundância, que aquele que desejar poderá encontra-las.
  24. Então, o povo disse: Mostre-nos o caminho para podermos encontrar o tesouro que descansa no coração.
  25. E Jesus abriu-lhes o caminho; os servos enxergavam um outro lado da vida, e o labor tornou-se alegria.



 Livro: O Evangelho Aquariano de Jesus Cristo, Levi H. Dowling